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Os desafios de fazer ciência na Amazônia, confira a entrevista do Dr. Niro Higuchi para a Academia Nacional de Engenharia

  • Publicado: Segunda, 06 de Junho de 2016, 15h04
  • Última atualização em Segunda, 06 de Junho de 2016, 15h35

* Matéria retirada do site da Academia Nacional de Engenharia

 

Os desafios de fazer ciência na Amazônia*

 

 

O Acadêmico Niro Higuchi diz que a floresta é um arquivo de informações genéticas produzidas ao longo de sua evolução.

 

Engenheiro florestal, o Acadêmico Niro Higuchi estuda a Floresta Amazônica há mais de 30 anos. Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), assumiu em março a gerencia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) - um programa multidisciplinar que busca entender o funcionamento dos ecossistemas amazônicos em todas as suas vertentes e estudar o sistema amazônico como uma entidade regional no sistema Terra, assim como as causas e efeitos das mudanças em curso na região.

“O grande esforço da pesquisa na Amazônia brasileira tem sido no sentido de entender como a Floresta Amazônica responde aos eventos extremos atribuídos à mudança climática pretérita. Mesmo sem condições de reverter este quadro, este tipo de estudo ajuda a definir as estratégias de mitigação da mudança climática”, diz o engenheiro.

Em entrevista ao Boletim da ANE, Niro Higuchi fala sobre desmatamento, código florestal, preservação ambiental e o desafio de fazer pesquisa em tempos crise econômica. Confira:

 

BOLETIM ANE - Qual a importância da Floresta Amazônica para o desenvolvimento econômico e social do país?

NH -Em 2013, a Amazônia Legal contribuiu com 8,45% do PIB nacional. Partes do Maranhão e do Mato Grosso fazem parte da Amazônia Legal. Retirando do cálculo do PIB, a agropecuária, turismo e serviços em regiões não consideradas “floresta amazônica” e o próprio distrito industrial de Manaus, a contribuição fica menor ainda.  Neste contexto, a importância direta da “floresta amazônica” no curto prazo é muito pequena. No entanto, o chão da “floresta amazônica” é muito mais do que apenas substrato para a agropecuária; não se pode negligenciar o banco de informações genéticas produzidas ao longo de seu processo de evolução, abrigo da biodiversidade e de outras formas de vida e os seus importantes serviços ambientais.

 

Como compatibilizar a questão ambiental com o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia?

NH - Em ecossistemas heterogêneos, complexos e frágeis como os da Amazônia somente por meio do conhecimento é possível compatibilizar desenvolvimento com equilíbrio ambiental.  

 

Como o Sr. avalia o Código Florestal e a política ambiental brasileira?

NH - Como documentos, as leis ambientais são bem razoáveis; talvez, o grande problema sejam as brechas legais para “jeitinhos”. Os decretos e as MPs de antes da PEC nº 32 de 2001 têm sido utilizados como “jeitinhos” para embaralhar ainda mais as leis ambientais. A reserva legal foi, por exemplo, introduzida em 1965 (novo código florestal); em 1989 (Lei nº 7.803, de 18/07/1989) foi estabelecido que a reserva legal devesse ser averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel no registro de imóveis competente. O decreto 6514 de 22/07/2008, que regulamentou a lei de crimes ambientais, em seu Art. 55 introduziu as penalidades para quem não averbasse a reserva legal e estabeleceu um prazo de 180 dias para entrada em vigor; daí para frente o que se viu foi um festival de decretos apenas alterar o prazo original até a aprovação do código florestal em 2012. Deste código, o prazo para inscrição no CAR e na adesão ao PRA já foi alterado duas vezes.

 

Qual a situação do Brasil na questão de preservação do meio ambiente?

NH - A área desmatada na Amazônia vem caindo desde 2008. A redução de quase 30 mil km2 para os atuais 5 mil km2 é uma boa notícia. No entanto, o desmatamento ainda é muito grande se comparado com o retorno à economia nacional. Quanto à preservação do meio ambiente do Brasil, o desastre em Mariana fala por si só. Só espero que, assim como o desastre com o Césio-137 em Goiânia, nunca mais se repita o desastre de Mariana.  

 

Um estudo divulgado no início do ano passado (publicado em artigo acadêmico na revista Nature), informava que a Floresta Amazônica tem diminuído a capacidade de armazenar carbono. Como está essa questão? Esse problema realmente vem ocorrendo? Quais os impactos dessa redução (se for o caso) para o clima?

NH - O estoque de carbono da floresta amazônica é regulado pela entrada (recrutamento) e saída (mortalidade) de indivíduos arbóreos do sistema mais a capacidade das árvores em armazenar carbono em, pelo menos, duas ocasiões. Em anos com falta (secas prolongadas) ou excesso (chuvas acima do normal) de água, as taxas de mortalidade são maiores; neste caso, a

floresta pode perder biomassa. Uma coisa é perder estoque num ano e ganhar no outro; outra coisa é perder a capacidade de armazenar carbono. Se isto está acontecendo é difícil de afirmar já que este tipo de resultado exige um monitoramento de uma série temporal bem longa.

 

As mudanças climáticas já estão ocorrendo. Qual a importância desses estudos na Floresta Amazônica? Dá para reverter esse quadro? E qual a relação dessa preservação com as  mudanças climáticas?

NH - O fato é que houve uma mudança climática com o aumento da temperatura média do planeta durante o período de 1880 a 2004 (ou 2012 do 5º Relatório de Avaliação do IPCC). Desde a década de 1990, o grande esforço da pesquisa na Amazônia brasileira tem sido no sentido de entender como a Floresta Amazônica responde aos eventos extremos atribuídos à mudança climática pretérita. Mesmo sem condições de reverter este quadro, este tipo de estudo ajuda a definir as estratégias de mitigação da mudança climática.

 

O Sr. assumiu a gerência do LBA, quais são as prioridades do laboratório? Como adequar as pesquisas aos recursos disponíveis em tempos de crise, quando os orçamentos são reduzidos? Como fazer para driblar a falta de recursos?

NH - A única certeza é que o LBA não pode parar agora. Neste momento de crise, nós vamos buscar apoio da cooperação internacional para manter a chama acesa de um importante projeto que é, a todo o momento, desafiado pela mudança climática pretérita.

No curto prazo é racionalizando os recursos disponíveis de diferentes projetos que compõem o LBA. Historicamente, recursos orçamentários do INPA têm mantido a infraestrutura de pesquisas de campo do LBA. Com os cortes orçamentários já ocorridos e com os anunciados, essas despesas serão reduzidas e, mesmo assim, compartilhadas com os vários projetos.

 
Quais serão suas prioridades a frente da LBA?

NH - As prioridades são manter as medições contínuas e continuar contribuindo para a formação de pessoal na área da interação biosfera e atmosfera. 

 

 

Leia a matéria original em: http://www.anebrasil.org.br/ane2014/index.php/84-noticias/442-os-desafios-de-fazer-ciencia-na-amazonia-entrevista-com-acad-niro-higuchi-30-05-2016

 

 

 

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